A geração do A-Commerce
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A nova realidade passará por compras online, interativas, experimentais e em tempo real.
A evolução natural do comércio eletrónico passa pelo crescimento do mercado live
streaming, numa mistura de entretenimento, comunidade e comércio. A crescente integração
da inteligência artificial com o comércio eletrónico irá impulsionar a procura de
interação sem contacto, convergindo com os avanços da robótica. É a chegada de uma nova
geração de comércio automatizado: o A-Commerce.
A pandemia da Covid-19 tem vindo a revolucionar a forma como as pessoas vivem, trabalham e se relacionam entre si. Uma das consequências mais evidentes foi o forte crescimento do número de novos utilizadores dos canais
digitais, consequência do confinamento e das restrições de deslocação. As vendas pela internet também passaram a ser uma opção, quase que obrigatória, para lojas que até então se valiam apenas do seu espaço físico.
A junção de tudo isto irá resultar num
forte crescimento do shopstreaming. É uma tendência global que combina E-Commerce,
Livestream, Branded Content e Entretenimento.
Uma das consequências imediatas da pandemia decretada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) foi um substancial aumento de pessoas a executarem os seus compromissos profissionais em regime de teletrabalho, de forma provisória
ou não, e o aumento do recurso à tecnologia e internet para as mais diferentes finalidades.
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Cerca de um terço dos inquiridos pelo WSJ afirmou ter realizado, pela primeira vez, compras online de supermercado durante a pandemia da Covid-19.
Verificou-se, assim, um aumento do acesso à internet não apenas relacionado com o aumento do teletrabalho, mas também com atividades de lazer, como navegação em redes sociais, frequência online de aulas escolares, ginástica, jogos, e outras fontes de
entretenimento online. Mas com as economias em stand by, desde a produção ao consumo, decorrente do isolamento e distanciamento social que implicou o encerramento de instituições de ensino, estabelecimentos comerciais,
algumas indústrias e a grande maioria dos pequenos comércios, abriu-se uma janela de oportunidade para as empresas que permitem aos consumidores satisfazerem as suas necessidades a partir de casa, através do online. Consequentemente,
os acessos e o tempo despendido na internet aumentaram, bem como o número de pessoas que recorrem ao online para realizarem compras, o que se traduziu num forte impulsionador do crescimento do E-Commerce.
Analisando o caso
de Itália, entre fevereiro e março de 2020, verificou-se um forte crescimento das
vendas online face ao mesmo período de 2019. Em 8 de março, as vendas online
registaram um aumento de 90% em relação ao mesmo período do ano anterior. E a
própria cadeia de hipermercados Carrefour reportou, de acordo com o Financial Times,
uma duplicação dos seus clientes online, em apenas uma semana de confinamento. Já
nos EUA, os downloads das aplicações dos três maiores retalhistas aumentaram mais de
100% face a 2019, ainda durante o mês de março, segundo dados da Apptopia. Assim, e de acordo com um inquérito realizado pelo Wall Street Journal, cerca de um terço dos inquiridos
afirmou ter realizado compras de supermercado através da internet, pela primeira vez, apenas durante a pandemia da Covid-19.
Desta forma, a pandemia veio alterar os hábitos de consumo em benefício do digital.
Estima-se que o
mercado de retalho, a nível global, se fixe em 25 biliões de dólares em
2019, verificando-se através do gráfico abaixo uma menor taxa de crescimento nos últimos 5 anos, tendência que deverá continuar até 2023. Por outro lado,
vendas mundiais do comércio eletrónico alcançaram os 3,5 biliões de dólares, o
que traduz um aumento de aproximadamente 18% em relação ao ano anterior. Em 2019, a
participação do comércio eletrónico nas vendas totais ao nível do retalho global foi
de 14,1%, estimando-se que aumente para 22% até 2023.
Total retail sales worldwide, 2017-2023 (Trillions and % change)
Por outro lado,
vendas mundiais do comércio eletrónico alcançaram os 3,5 biliões de
dólares, o que traduz um aumento de aproximadamente 18% em relação ao ano anterior. Em 2019,
a participação do comércio eletrónico nas vendas totais ao nível do retalho global foi de
14,1%, estimando-se que aumente para 22% até 2023.
E-Commerce share of total global retail sales from 2015 to 2023
Worldwide: eMarketer: 2015 a 2019
Fonte: eMarketer © Statista 2019
Como se poderá verificar através do gráfico abaixo,
vendas globais
registadas ao nível do comércio eletrónico tiveram o seu maior crescimento no mês de junho,
com o volume a aumentar 31% em termos anualizados, bem acima dos 23% registados em abril e
maio, segundo dados publicados pela ACI Worldwide. Tratou-se de comportamento consistente a nível mundial com os maiores aumentos a verificarem-se nos setores de gaming (+ 70%) e retalho (+
68%), já os decréscimos foram liderados pelas viagens (-29%) e bilhética (-94%).
Global E-Commerce Transactional Volume Growth, By Month
Fonte: ACI Worldwide, 2020
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A nível mundial estima-se que o ecossistema digital registe um crescimento três vezes superior ao PIB global.
A nível mundial estima-se que o ecossistema digital registe um crescimento três vezes superior ao PIB global, com as empresas digitais a liderar esse crescimento. Através do gráfico abaixo verifica-se que enquanto o PIB global
teve um CAGR ( Compound Annual Growth Rate ou, em português, taxa de crescimento anual composta) de 3% entre 2009 e 2018, as receitas do ecossistema digital tiveram um CAGR de 8% durante o mesmo período.
Revenues of the digital ecosystem vs GPD 1,2 (left) and by segment 3 (right)
World, 2009-2018, base 100 in 2009 (right), USD Bn 4 (left)
Fonte: Thomson Reuters, World Bank, Arthur D. Little
Note 1: GDP based on purchasing-power growth of regions captured in the digital
ecosystem (same scope); Note 2: Digital ecosystem: top 30 players by 2018 revenues in each
category; Note 3: Top 30 per category by 2018 revenues; Note 4: Constant USD
O impacto potencial da digitalização é, por sua vez, maximizado quando a infraestrutura digital é aproveitada, em simultâneo, pela indústria, pelos consumidores e pela sociedade em geral.
Impact of digitalization on industry, consumer and society
Source: Arthur D. Little analysis based on publicly available data
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Em 2019, o comércio eletrónico business-to-consumer (B2C) representou 4,78% do PIB global da Europa.
Mesmo com um regresso à normalidade possível, já comumente designada de “novo normal”, criaram-se novos hábitos de consumo que privilegiam os canais digitais e que irão permanecer no futuro. Estudos recentes da BCG indicam
que, mesmo com a reabertura dos países após o confinamento, alguns grupos de consumidores revelam alguma relutância ou colocam mesmo de parte a hipótese de se deslocarem a lojas físicas. A própria análise ao comportamento
das mais recentes crises epidémicas permite-nos concluir que após o restabelecimento da normalidade sanitária em muitos países, o E-Commerce manteve-se em níveis elevados.
Na realidade, o E-Commerce já era uma tendência em rápida evolução, mas a sua importância será reforçada em função da perceção, quase que compulsória, das suas virtudes, limitações e oportunidades. Em 2019, o comércio
eletrónico business-to-consumer (B2C) representou 4,78% do PIB global da Europa que se cifra em mais de 13 biliões de euros.
As vendas através do
comércio eletrónico, a nível da Europa, atingiram os 636 mil milhões de dólares em
2019, um aumento de 14,2% em relação ao ano anterior. Estima-se que o volume de
negócios do comércio eletrónico europeu cresça cerca de 12,7% e atinja os 717 mil
milhões de dólares em 2020. Mas a realidade é que em resultado da Covid-19, que impulsionou fortemente as compras online, esses números provavelmente aumentarão, significativamente,
mais nos próximos meses.
Estudos demonstram que 87% dos europeus (578 milhões de pessoas) têm acesso à internet. Destes, mais de dois terços (67%) compraram online em 2019, o que revela uma tendência em crescimento.
E-Shoppers Europe (left) and E-GDP Europe (right)
Source: Eurostat (left), Retailx Analysis (right)
O setor do retalho é dos que que mais poderá beneficiar com esta mudança de comportamento do consumidor mais orientada para os canais online/mobile, mas, para tal, terá de se adaptar ao mundo digital. Trata-se de um mercado verdadeiramente
global, o que aumenta a competitividade de forma drástica, e implica novos procedimentos operacionais, novos métodos de logística e gestão de inventários e a implementação de uma estratégia integrada de marketing digital, com
auxílio da utilização de dados para gerar e reter conhecimento sobre a sua base de potenciais e atuais clientes online. Este conhecimento irá permitir a criação de campanhas direcionadas e de ofertas personalizadas melhor direcionadas.
A tecnologia passa a ser parte essencial de todo o processo. Sem um bom suporte tecnológico, as empresas terão imensa dificuldade em singrar num mercado verdadeiramente global. Ou seja, para que uma empresa consiga atrair
e reter um consumidor até ao fim do processo de compra, deve assegurar uma experiência de excelência através de, por exemplo, interfaces simples e intuitivas e com reduzidos tempos de carregamento das páginas (a Google aconselha
a que este não seja superior a 3 segundos), métodos de checkout e pagamento adequados, entre outros.
Em suma, a crise desencadeada pela Covid-19 tornou-se numa espécie de wake up call para a transição do mundo offline para o mundo online que promete abanar os equilíbrios competitivos vigentes. O retalho online, onde os
“marketplaces” (plataformas multimarca de venda online), a par da internacionalização, tendem a assumir-se como canais cada vez mais relevantes, continuará a crescer claramente acima do retalho físico.
Muita da
tecnologia nascente a par de uma maior conectividade a nível mundial promete
revolucionar o futuro do E-Commerce que irá passar pela crescente aplicação de
algoritmos e Inteligência Artificial, o que permitirá uma total automatização do
processo de pesquisa, negociação, compra, entrega e muito mais, no que se traduz numa
profunda revolução em curso rumo ao Automated commerce (A-Commerce).